Meses de esperança construída com ótimos cenários soterrados pela raiva crescente de um novo golpe em curso. Fardados da estrada barrando o caminho, pra não dar tempo de todo mundo conseguir dizer que futuro gostaria de ver pra si e pros outros. Crise de ansiedade e de choro, que só foi amenizada com pé na grama pra dispersar essa energia horrível na terra.
E então as pessoas começaram a cumprimentar pelo caminho, gritando e fazendo com a mão o sinal que, de quase secreto, se tornou código de reconhecimento e de expressão de um desejo forte - praticamente impossível de ser parado. O barulho crescente ao longe dava a ideia: a festa já havia começado. Mesmo com toda a expectativa e a chance de que podia dar ruim.
O dia já caía, e as ruas estavam tomadas. Só ali na nossa bolha, mas foi o que tivemos de alento nesses últimos anos. Gente andando pra todo lado rindo, batucando, gritando, um carnaval antecipado. A cada atualização de números, uma nova pequena onda de comemoração que fornecia uma dose de ânimo cumulativa. As linhas do gráfico se cruzando lentamente, a gente de forma muito lenta se arrastando pra fora do buraco de lama, em direção ao desejo de poder viver.
Aí finalmente virou. Pulos e gritos, choro e abraços, banho de cerveja e fogos. Uma onda maior de som e energia, arrebentando em nossos corpos, um orgasmo purificador exorcizando a tristeza que tanto pesou sobre nossas cabeças, depois de tanta raiva e desejo de morte. Um expurgo mental, uma peia de libertação dos braços que nos agarravam e não nos deixavam ir... até agora.
Todo esse chorume agora começa a sair. E vai aos poucos ser preenchido por outros sentimentos, com respirações mais longas e lentas. Parece que saímos de uma prisão. E as possibilidades são muitas de se corrigir o curso. A briga não termina, porque tem tanta gente com esse chorume dentro de si, depois que o ovo dentro delas chocou.
Mas por hora… gente merece ter esse alívio.
Ah, Não, Outra Newsletter!?
Sim! Hm… Oi! Espero que essa mensagem te encontre bem. Meu agradecimento e minhas boas-vindas a você que assinou este… informativo por email, newsletter ou como quiser chamar. As reticências na frase anterior não são à toa - isso aqui pode vir a ser muita coisa.
Coluna de opinião, crônica, atualizações auto-indulgentes, contos, impressões sobre obras de várias mídias, mixtapes, experimentações e o que couber.
Pretendo que essa newsletter tenha um pouco disso tudo, e se assemelhe mais a uma montagem caótica - como um antigo zine feito com tesoura e cola (e tive minha pequena cota de produção desses, como você vai ver em edições futuras) - do que exatamente uma proposta bem definida e tão nichada para tentar que as pessoas me enxerguem como “especialista” em, algo.
Aqui cabe uma apresentação: Meu nome é Hector Lima; sou natural de Santos-SP e moro na capital desde 2008. Sou redator. Já escrevi, e ainda escrevo, de tudo - em geral no universo da Publicidade e Cultura. Ocasionalmente traduzo ou edito alguma coisa, e faço roteiros de Histórias em Quadrinhos - meu site [mais um cartão de visita mesmo] tem uma lista dos trabalhos nessa área: hectorlima.com. Já me ocupei como DJ, entre outras coisas, e recentemente comecei a ter algumas oportunidades no Audiovisual.
E AÍ, QUER TC?
Newsletters são uma forma de comunicação de que gosto muito, e em volta das quais sempre circulei. Há mais de 15 anos eu tive a minha própria, chamada MEMORANDO, e nem lembro por que parei com ela na época. Redigi muitas outras, mas para marcas e serviços de vários clientes. Há tempos eu queria voltar a fazer uma nova, e vivia enrolando, por vários motivos.
Pra mim existem ótimos argumentos técnicos e pessoais pra investir um pouco do meu tempo nisso: a primeira escolha seria fazer um blog, mas - ainda que os robôs do Google sejam eficientes - a divulgação depende de se espalhar os links dos posts nas redes sociais.
Que, em 2022, se tornaram um ambiente inóspito e tóxico: nenhuma plataforma exibe direito os posts para os seguidores que você possa ter, não importa o quanto você torça e retorça seu conteúdo para agradar as divindades algorítmicas e sua fome mutante e insaciável por “conteúdo engajador”, que no fim privilegia os experts em Funil de Vendas e fascistas digitais.
Uma newsletter, por mais diferente que possa ser, ainda possui a mesma essência: praticamente todo mundo que assinou, recebe. A porcentagem de quem lê e eventualmente clica em um link, é em tese alta em termos de engajamento - quando se compara às redes. Pela natureza da proposta, ainda é uma carta endereçada a alguém.
E eu estava precisando mesmo de uma válvula de escape pra expressar o que quer que fosse, depois de anos e anos fritando meu cérebro nas baias de agências. Nunca tive vontade de ser podcaster, youtuber, então a escolha mais óbvia era voltar a ser newsletterer [essa palavra não deve existir, mas enfim]. Mais importante, isso tudo pode servir pra me reconectar com uma escrita que faça sentido pra mim e quem sabe pra mais gente. É isso, um processo de reconexão.
Nos meses em que passei enrolando pra fazer esse informativo, sempre me peguei pensando que ia me arrepender de começar, que estaria arrumando mais uma obrigação pra minha cabeça. Mas, acabando de escrever essa mensagem inicial, acho que estava precisando mesmo disso. E essa plataforma Substack parece ser no momento uma das melhores formas pra fazer isso acontecer. Vamos ver onde vai dar.
Eu mal comecei e já estou achando legal. NARRATIVA OCULTA também tem uma versão paga, que vai incluir produções e informações exclusivas pra assinantes.
KETACOP: ORGULHO DA NOSSA POLÍCIA
A detetive Keyla Potranca investiga PMs sujos em uma festa de techno num galpão muito suspeito. Ao cair num buraco de K ela faz uma bad trip às profundezas do seu subconsciente, onde orgias de sadomasoquismo com versões diversas da Pamela Anderson com tatuagens tribais apontam o caminho para ela resolver o caso de tráfico da droga radiativa Ketacésio 137 e dar o que merece aos policiais podres que quiseram acabar com sua carreira.
KETACOP - SPECIAL K EDITION é uma HQ independente da artista Arame Surtado, que traz a estética dos fanzines underground de uma forma tão crua, tesuda, suja, escatológica, engraçada e raivosa.
É como ouvir a fita demo de uma banda cujo lado A é punk hardcore e o lado B é metal musculoso, contrastando a opressão cordial desse país de meu deus à curtição a níveis surrealistas tão bizarra quanto. [A revista ainda vem com colantes temáticos que eu certamente usaria pra decorar a janela do quarto se não quisesse me mudar o quanto antes.]
Keyla Potranca, literalmente uma cavala que anda nas duas patas com roupa de dominatrix e cintos de pino de ketamina e cocaína pendurados sobre os peitos siliconados, é tudo que o Brasil de Bolsonaro precisava. A ambientação na cena de “festas rave” de SP transparece uma verossimilhança - mesmo nessa fantasia absurda - que só uma pessoa frequentadora desse universo poderia ter feito com propriedade.
Essa HQ não estaria nada deslocada em uma edição da revista ANIMAL nos anos 90. Eu precisava tanto ler algo assim - inclusive deu até uma fissura de produzir algo pra ontem.
Você encontra KETACOP em lojas especializadas, diretamente no site do selo Escória Comix, ou entrando em contato com a artista pelo @aramesurtado. Dê de presente pra alguém na sua família.
SUBLIME SEU EGO NESSE HALLOWEEN COM RATPAJAMA
O Dia das Bruxas vai ficar muito melhor com EGO DEATH, álbum mais recente da banda Ratpajama, de Fortaleza - CE.
Ouça mais e siga: Bandcamp - Instagram
RECALQUE COSTURADO
"Você, que chama Frankenstein de amigo, parece ter conhecimento de meus crimes e dos infortúnios dele. Os detalhes, porém, que ele ofereceu de tais feitos não resumem as horas e os meses de desdita que suportei, perdido em paixões impotentes. Enquanto destruía suas esperanças, não satisfiz meus desejos. Eram eternamente impetuosos e potentes; ainda desejava amor e companhia, que me eram recusados com desprezo. Não havia nisso injustiça?"
-- FRANKENSTEIN, Mary Wollstonecraft Shelley
Na próxima edição: O Fantasma do Artista Sofrido
- Hector Lima
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