Olá, espero que seu Dia das Bruxas e Finados tenham sido bons - divertidos ou tranquilos. Por ocasião dessa data e do primeiro aniversário da newsletter, resolvi trazer um relato que eu só havia contado pessoalmente a algumas pessoas mas nunca registrado em escrita. O que se segue é uma história real.
Era o começo dos anos 90 na minha cidade natal Santos. Eu era um adolescente nerd cabeludo que ia todo sábado à tarde fazer um ritual arcano:
Uma caminhada pela Avenida Epitácio Pessoa, a uma quadra da praia, até a casa do meu amigo Fred e dali até o bairro do Gonzaga nos alimentar das novidades de Quadrinhos na Banca Estátua. Voltávamos pra casa dele a pé - em Santos tudo é perto no geral e não andávamos de bicicleta.
Líamos as revistas que tínhamos comprado, discutíamos as histórias víamos as artes que o Fred fazia. Ele desenhava muito, no estilo do John Byrne [que carinhosamente chamávamos de “Jumbírni”], ainda um dos nossos maiores ídolos da época, e jogávamos videogame ouvindo o programa de rádio Hard ‘n’ Heavy, apresentado pelo Pepinho Macia - filho do jogador Pepe. O Metal ainda não era um estilo musical no qual eu me ligava muito, mas fazia muito sentido jogar STREETS OF RAGE com Iron Maiden e Manowar de fundo.
MEU PRÓPRIO STRANGER THINGS
No caminho entre a minha casa e a dele havia duas galerias de lojas térreas. A mais próxima da minha casa, Shopping Embaré, sediava o Clube de Xadrez de Santos - onde aprendi o antigo jogo e onde conquistei a gloriosa penúltima colocação no campeonato em que participei. Foi justamente nessa galeria de lojas que eu aprenderia outra arte antiga: a de falar com espíritos.
Não lembro qual de nós dois descobriu o lugar, mas achamos muito legal uma loja nova que começou a funcionar ali: a Casa da Bolha, uma comic shop que servia também de ponto de venda de um jornal impresso em formato tabloide produzido pelo dono, com matérias sobre Cultura Pop e anúncios locais.
Começamos a frequentar a Casa da Bolha regularmente e fizemos amizade com Marcos o Neto, caras mais velhos que eram respectivamente designer e ilustrador do jornal, além de serem funcionários da loja.
Um adendo: troquei o nome das pessoas e do jornal pra não dar problema pra elas nem pra mim.
Assunto não faltava. Todos nós tínhamos gostos muito similares de HQ - afinal Marvel e DC dominavam as bancas, com alguma coisa europeia e independente no meio pra temperar.
Clientes entravam e saíam e nós éramos aquele tipos que consomem um pouco mas criam raízes e demoram pra ir embora. O dono na Casa da Bolha não ia muito com nossa cara; o negócio dele era captar anunciantes pro jornal e pouco ficava ali.
Em algum momento dos papos sem fim com a dupla da loja, chegamos no tema “espíritos” e no fatídico “Jogo do Copo”. Neto e Marcos se entreolharam e deram aquela risadinha de quem sabia de algo muito legal e muito errado.
Se um dia a gente quisesse, eles poderiam fazer uma sessão com a gente pra mostrar.
TABULEIROS FALANTES
A dupla da loja nos contou que já fazia o tal Jogo do Copo havia um tempo, e tudo que sabiam a respeito. Caso você não conheça nem tenha visto em alguma obra de ficção, trata-se de uma versão caseira do Ouija, um tabuleiro supostamente usado para se comunicar com espíritos.
Há registros de uma versão mais rudimentar na dinastia Song [1100 AC] na China de práticas de “escrita automática” com ajuda dos espíritos, até ser proibida oficialmente, e correr o mundo em círculos ocultistas.
Conforme o Espiritismo foi se popularizando a partir da França e chegou nos EUA pós-Guerra Civil, os “tabuleiros falantes” foram ficando cada vez mais conhecidos conforme aumentava o interesse pelos temas sobrenaturais.
E com isso surgiram as sessões recreativas mediúnicas com Mesas Girantes em festas da alta sociedade de um lado - e as possessões de meninas adolescentes nas famílias religiosas pobres de outro. Toda a história real que inspirou O EXORCISTA em livro e filme veio de relatos do lendário caso do garoto Roland Doe em 1949, por exemplo.
O mago Aleister Crowley e o poeta Yeats mexeram com isso - o primeiro usou em rituais e o segundo para compor poemas na última fase de sua produção. O sucesso foi tanto que o irmão da médium Helen Peters Nosworthy patenteou a marca Ouija [um nome que ela disse ter recebido de um espírito em uma sessão com o tabuleiro].
Tempos depois a empresa Parker Brothers comprou a licença, que hoje está com a Hasbro - até os anos 90 era possível ver na TV norte-americana anúncios do jogo.
Enquanto os RPGs que a Hasbro vendia, como DUNGEONS AND DRAGONS e MAGIC: THE GATHERING, eram demonizados, ela estava vendendo BANCO IMOBILIÁRIO e um OUIJA que brilha no escuro. De qualquer forma praticamente todas as religiões cristãs condenaram a prática ao longo da história.
Depois desse interlúdio educacional vamos voltar ao motivo de estarmos aqui: recreação com espíritos - eba!
QUANDO O COPO SE MEXEU
Eu não me lembro do ano exato em que começamos com isso [talvez os outros envolvidos lembrem], mas não vou esquecer que foi em um 31 de Outubro. Que dia mais apropriado pra se falar com espíritos do que quando eles mais vagam por esse plano?
O combinado foi irmos na loja perto do horário de fechamento e fazermos o Jogo do Copo lá mesmo. Mesmo com a galeria fechada ficaríamos lá, e por via das dúvidas faríamos a sessão no andar de cima, que acessávamos por uma escada em espiral; lá era o depósito e não tinha janelas. Nenhum segurança circulando pela galeria de luzes apagadas podia nos ver.
Toda a ambientação da situação, aliada à nossa expectativa, dava um ar de contravenção ao negócio, como se estivéssemos indo fumar maconha escondido, ou participar de uma suruba - mas pelo menos o Fred e eu éramos nerds virgens demais praquilo. Nosso negócio era mesmo falar com pessoas do outro lado da vida.
Marcos e Neto não tinham um tabuleiro, nem a base de madeira com vidro que se movia até as letras. Mas não fazia diferença: mesmo com os mais diferentes formatos, enfeites e decorações, o tabuleiro era igual em todo o mundo. Só precisamos de uma folha de papel ou cartolina, uma caneta e um copo limpo.
As letras do alfabeto foram escritas em círculo, ou duas meias-luas, os números de zero a nove logo abaixo, o “sim” e “não” em pontas opostas, e o “olá” e “adeus” em outras pontas. Não importava muito, cada um podia deixar mais rebuscado para parecer mais “mágico” se quisesse. Ali era bem simples e funcional, até rudimentar. E o copo no centro, com a boca virada pra baixo.
Eu perguntava sobre tudo, e o uso do copo era pelo fato de [conforme explicado], sendo de vidro era composto de cristais de areia - da mesma forma que a base triangular do tabuleiro - e cristais ajudariam na catalisação de energia espiritual.
Mauricio ficou com um caderno e caneta pra anotar as letras que formariam as palavras. Algumas velas foram acesas. Um de nós teria que ser o “médium” ali, e o Neto era o mais experiente. Ele não necessariamente receberia um espírito, mas comandaria a sessão, como um mestre de partida de RPG.
Como proteção, ele sugeriu que rezássemos uma oração de Pai Nosso. Mesmo renegando meus dias de Primeira Comunhão na Igreja Santo Antônio do Embaré - a poucos metros dali - sinceramente eu achava que qualquer proteção é sempre válida diante do Desconhecido.
Terminada a oração, já sabíamos o que fazer: pousar nossos dedos indicadores no fundo do copo - ali virado e ponta-cabeça. Dirigindo-se ao ambiente em nossa volta, o Neto pronunciou: “Há aqui alguma pessoa desencarnada ou ser de luz que queira se manifestar?”… e nada. Ele repetiu mais umas duas ou três vezes…
Até que o copo foi se mexendo lentamente, parando e cima do “sim”.
O ESPÍRITO FALA
Fred e eu nos entreolhamos, com a respiração presa. Putaquepariu, o negócio tinha se mexido mesmo [o palavrão foi pronunciado unicamente na minha cabeça; eu que não era louco de soltar isso no meu primeiro contato consciente com o Além].
“Por favor, volte ao centro,” Neto solicitou, e o copo assim o fez - isso se repetia sempre que uma resposta era finalizada. Foi dito que apenas queríamos falar com espíritos de luz, pedida a confirmação se era tal, e veio.
“Neto, você tá mexendo”. Não estava.
Havia uma certa autoridade do Neto na dinâmica dessa conversa, porque eles haviam ensinado que era necessário uma certa imposição não-afrontosa, mas com respeito, para não deixar espíritos zombeteiros / de pouca luz encherem o saco dos vivos.
Algumas perguntas simples foram feitas, com Mauricio anotando tudo. Sabíamos que a frase havia terminado quando o copo ficava parado em cima de uma letra e não se movia mais.
Em algum ponto Neto perguntou o nome de quem estava ali; eles haviam dito que era importante sabermos com quem estávamos falando. O copo foi se movendo até soletrar:
M-E-R-L-I-N
“Ah, é o Merlin!,” o Mauricio exclamou.
Eles conheciam aquele espírito, já tinham falado com ele em outra sessão. Era uma pessoa desencarnada que usava esse nome do mago da lenda do Rei Arthur de brincadeira.
OK… e o que o ele queria? Deixar uma mensagem pra gente.
“Pra quem, especificamente?”
E o copo se moveu na minha direção [putaquepariu]. Depois na direção do Fred, e de cada um dos outros dois. Era uma mensagem para todos. Tínhamos que buscar algo. Uma coisa escondida, perdida há muito tempo.
E-X-C-A-L-I-B-U-R
Não podia ser. Que negócio era esse? Talvez aquela fosse só a primeira sessão, mas talvez já estivéssemos com muita vontade de perguntar tudo. Eventualmente dirigíamos as perguntas ao Neto, que as fazia em voz alta e pronunciada.
Ao invés de medo, eu estava era me sentindo empolgado demais com a experiência e não queria que ela acabasse tão cedo.
Mas em algum momento tivemos que ir embora, e nos despedimos das pessoas do outro plano - sempre encerrando a conversa oficialmente e sugerindo que seguissem em paz no plano deles.
Estava ficando tarde, Neto se sentia cada vez mais cansado, e mesmo eles tendo as chaves do portão da galeria, poderia chegar no ouvido do dono que um grupo de quatro caras estava na sobreloja escondido até altas horas fazendo sabe-se lá o quê.
Os amigos nos recomendaram que fôssemos pra casa, tomássemos banho, rezássemos e logo dormíssemos. Então um dos Halloweens mais divertidos da minha vida tinha terminado - mas não meu interesse por aquilo.
Na verdade, só tínhamos começado a nos viciar.
O ORELHÃO DO ALÉM
Naquela época não havia internet nem celular para a população [existia a BBS, mas quase ninguém usava ou sabia o que era]. Nossa forma de comunicação à distância era por telefone fixo, carta e orelhão, os postes telefônicos que ficavam em locais públicos e faziam ligação por fichas compradas no comércio.
Aquilo pra gente era como ter acesso a um orelhão do Além - inclusive foi assim mesmo que um espírito descreveu pra mim em outra sessão o contato com a gente:
Eles estavam vagando em outro plano, e viam ser aberta uma espécie de janela pro nosso mundo. Era a sessão de Ouija começando. Eles não podiam atravessar essa janela - o que tirou pra mim o medo e possessão -, apenas usá-la pra se comunicar conosco, mudando sua frequência vibracional nessa janela e acessando a nossa energia concentrada nos cristais do copo. Um canal de comunicação.
E só um espirito podia falar com as pessoas da sessão por vez; as outras ficavam esperando como numa fila de orelhão. Todos esses detalhes técnicos pra mim eram importantes, e lembro deles pois eu perguntava tudo aos amigos, antes e depois das sessões. Eu nunca saí da “fase dos porquês”. Se eu faço até hoje pergunta em sala de aula, não é pra espírito que vou deixar de fazer.
“Onde você está, fisicamente em nosso plano?”, eu perguntei em uma sessão.
O copo se moveu pra um ponto entre o Fred e eu. Estava bem ao nosso lado, como sua mão ectoplásmica mexendo o copo. Em uma ocasião o dedo de um de nós saiu, e a “ligação” com o Além se perdeu, como quando o sinal de telefone caindo.
Em outros momentos esse sinal ele estava tão forte que o copo se movia em alta velocidade, como se o fantasma estivesse ansioso em conversar. Em algumas ocasiões eu abaixava a cabeça e a virava de lado pra ver melhor e nossos dedos nem estavam encostando direito no copo; só de nos juntarmos ali com as mãos pairando em cima a coisa acontecia.
O negócio virou uma febre entre nós; Fred e eu queríamos fazer sessões sempre, e os amigos estavam dispostos a isso. Era uma diversão também pra eles, e a Jana, namorada do Mauricio, que em seguida se uniu a nós.
Revezávamos o posto de “médium”: até eu cheguei a comandar uma das sessões. Acho que em algum momento a gente estava tão habituado que chegamos a fazer na própria loja, uma vez que os seguranças não apareciam.
Foi assim que eu pude coletar outra comprovação “física” que buscava daqueles fenômenos:
“Você pode mostrar pra gente uma manifestação sua em nosso plano?”
E ouvimos um grito gutural ecoando pelos corredores da galeria escura.
Confesso que até me assustei com o barulho, mas tudo era tão fascinante e divertido que não nos impediu de continuar.
E seguimos por um bom tempo, com nossas famílias achando que estávamos nos reunindo com amigos pra jogar conversa fora e de vez em quando jogar RPG [coisa que não fazíamos]. O nosso Jogo era o do Copo.
A Ouija-mania era real pra gente.
AMIGOS NO LIMBO
”Merlin” tinha um papo muito curioso e próximo da gente; tudo que ele falava metaforicamente fazia muito sentido e se conectava às nossas referências. Era como uma pessoa desencarnada que atuava como um guia espiritual meio engraçado, e humor irônico, que nos falava sobre cumprir uma missão, mas nunca entendemos de fato que missão seria essa.
Acho que em alguma noite perguntei se tínhamos que buscar o ponto ideal em um dos canais que cruzam Santos pra ver o braço da Dama do Lago surgir com a espada que só alguém ali seria digno de tirar da pedra.
Mas não falamos só com mortos.
Em algum momento apareceu o espírito de uma moça, que pela conversa parecia estar meio confusa. Pensei até que pudesse ser uma pessoa recém-desencarnada. O nome era igual ao de uma antiga colega minha de escola.
Quando perguntada se conhecia alguém na mesa, apontou pra Jana… e pra mim. Depois de várias perguntas chegamos na informação do Colégio Santa Cecília, onde havíamos estudado juntos.
Ela disse que estava naquele exato momento em casa, cochilando no sofá. Supostamente a minha energia e a da Jana havia “puxado” o espírito de uma pessoa viva que conhecíamos. Eu fiquei meio com medo de ela não voltar mais pro seu corpo.
Mas antes de nos despedirmos ela começou a apontar pra letras desconexas, que não formavam palavras, e então parou. Interpretamos isso como o fato de ela estar acordando do cochilo. Posteriormente eu soube que ela estava viva e bem.
Em outra ocasião apareceu outro sujeito ainda encarnado, um cara que Mauricio e Jana conheciam. Geralmente os vivos pareciam confusos, e esse além de confuso estava triste. Após algumas perguntas entendemos que era um amigo deles.
Ele havia sofrido um acidente de moto e estava em coma no hospital. Cacete…
O rapaz então começou a falar que estava cansado e queria ir embora; os amigos dele na mesa perceberam que esse “ir embora” se referia de fato a outra coisa: morrer.
Então se seguiu um momento de Centro de Valorização a Vida com o espírito de uma pessoa em coma, e os amigos dele o convencendo de que a vida era boa, de que ele devia ficar nesse plano pra aproveitar outros carnavais.
Se o cara permaneceu ou não por aqui eu sinceramente não lembro, mas o fato é que sentimos que estávamos ficando bons naquilo - ainda mais com aconselhamento de um guia espiritual amigão nosso que nos havia imbuído de um sentimento de propósito com a tal “missão” de nos fazer acreditar que havia algo de certa forma grande e positivo a ser realizado.
Mas excesso de confiança nunca é bom.
ESSA FESTA VIROU UM ENTERRO
Estávamos tão de boa com nosso Jogo do Copo que começamos a querer fazer fora da sobreloja, e assim o fizemos. Festas na casa dos amigos mais velhos sem os pais eram o ambiente perfeito. Só pedir uma pizza, ver um filme e depois… “bora? Bora”. Era um hábito já.
A gente se reuniu na casa de um deles, com mais gente agregada, e logo depois da pizza não teve nem filme: já estávamos rabiscando num papel o tabuleiro e pegando um copo limpo pra começar.
Fala com um espírito, fala com uma entidade… opa, olha o Merlin aí novamente… e de repente uma conversa diferente começa com um espírito novo.
Um que não quis se identificar direito. Parecia meio arisco. Começou a fazer algumas piadas que dificultam a compreensão das frases, e não estava respeitando muito a condução do médium - que na ocasião era o Mauricio.
E também não queria ir embora. Não é um sinal muito bom.
Foi solicitado mais uma vez que ele se retirasse e “siga por seu caminho de luz”.
M-A-M-A-M-A-M-A-M-A-M-A-M-A-M-A, ele soletra.
Ok, já está zoando demais.
“Por favor se retire e siga seu rumo, estamos pedindo”.
E ele começa a soletrar uma frase, que ninguém estava anotando, mas o Mauricio foi falando em voz alta:
A-D-A-T-A-D-A-S-U-A-M-O-R-T-E-É…
“Ah, não, chega! Já deu,” o Mauricio fala alto pro espírito.
E todos tiramos o dedo do copo.
Interrompemos a sessão abruptamente mesmo, sem nem tentar dialogar com o espírito mesmo, porque não estava funcionando.
O clima havia pesado, estávamos esgotados. Parecia que havia tido uma briga na festa, mas no caso uma discussão com o Além. Nada divertido. Ninguém mais tinha cabeça pra nada, não sabíamos o que fazer. Mas sabíamos que não queríamos voltar a mexer com aquilo naquela noite.
Voltei pra casa assombrado com tudo aquilo. Tentei fazer as proteções simples que eu havia aprendido e tentei dormir.
Depois disso conversamos muito a respeito, pra tentar entender o que havia acontecido. Foi uma proteção malfeita, a combinação das pessoas presentes, o momento, o lugar?
Realmente fazer uma sessão na própria casa de uma das pessoas não tinha sido uma ideia nada boa - até por segurança dela.
Cheguei a jogar um pouco RPG [3 ou 4 partidas] com outro grupo de amigos, mas achei meio chato. Principalmente quando fui jogar VAMPIRE e algumas pessoas agiam de certa forma como se fossem os personagens de verdade e soubessem segredos dos clãs que fazem parte do jogo, naquele modelo de excluir quem não fizesse parte de um círculo secreto que sabia mais que o outro. Que bobagem.
Os amigos do Jogo do Copo não eram assim, pelo contrário: abriram o conhecimento pra gente, e aproveitamos o que deu. Sempre acreditei em agregar, não em segregar, conhecimento. Não éramos melhores que ninguém, apenas um pequeno grupo de nerds curiosos.
Que podem ou não ter sido enganados por um ser de baixa luz, um espírito zombeteiro.
Pode também não ter sido nada, apenas uma manifestação da mente mais forte ali em cada momento por meio de sugestão de autoridade - inclusive até sem intenção.
Ou mesmo uma manifestação do nosso inconsciente coletivo, como copo se movendo pelo Efeito Ideomotor, como acredita a Ciência, que usa esse conceito e o conecta a outros, como o da Dissociação, pra tentar explicar como pessoas em estados alterados de consciência podem ter apresentar fenômenos de clarividência, telecinese, telepatia, entre outros.
Pode ter sido tudo ou mesmo nada disso. Mas que o copo mexia, mexia sim - e que as conversas faziam sentido, faziam.
De qualquer forma a alegoria fantástica do “Merlin” e das dicas que ele nos dava teve seu propósito, de nos fazer pensar em como agimos, e qual nosso papel na história que escrevemos pra cada um de nós mesmos.
É como na história IT do Stephen King: o que importa não são apenas as entidades sobrenaturais que enfrentamos, mas os amigos que fazemos pelo caminho.
TATUAGEM DA ALMA
Falando em amizade, SOUL INK está em campanha de financiamento coletivo no Catarse. Essa HQ é produzida pelos meus amigos Pablo Casado [roteiro], Felipe Cunha [desenhos] e Talles Rodrigues [cores]. Pra conhecer, clique em uma das imagens abaixo:
A sinopse:
Estamos em um futuro onde é possível modificar o corpo e a mente. Saulo, nosso protagonista, decide ser um tatuador tradicional. Escolha de quem perdeu um pedaço considerável da vida adulta para o crime e suas consequências e só queria recomeçar do zero. Mas quando Samuel, seu irmão mais novo, tem a cabeça colocada a prêmio, o passado de Saulo se revela uma ferida aberta.
Depois de SABOR BRASILIS, da qual participei com os dois primeiros autores, Pablo e Felipe não haviam mais trabalhado juntos - e trilharam até agora carreiras incríveis nesse meio com trabalhos como MAYARA E ANNABELLE e GATSBY.
Esse projeto independente da SOUL INK quase rolou há alguns anos, nos tempos em que dividíamos estande no FIQ como o coletivo Fictícia. E agora eles resolveram acertadamente retomar a história e refazê-la, num momento de maior amadurecimento artístico.
Essa é uma HQ que mistura elementos de Ficção Científica a drama e intriga, com desenvolvimento de personagens que só esses caras sabem fazer. Sou extremamente suspeito pra falar, mas considero de verdade o Pablo um dos melhores roteiristas brasileiros em atividade - coisa que espero um dia ver mais reconhecida.
E assim, sinceramente, olha essas artes. Felipe e Talles são a combinação pop perfeita que a gente não sabia que precisava. Quero muito ler isso e acredito que algumas das pessoas que estão lendo essa newsletter também vão querer.
Então vai no Catarse garantir seu exemplar da SOUL INK - senão eu vou mandar um espírito puxar seu pé de noite.
E por hoje é isso. Obrigado por ter lido até aqui. Uma boa noite pra você e bons sonhos. Nos vemos na próxima edição.