Hoje, 22 de Novembro de 2023, deveria marcar a chegada de uma nova História em Quadrinhos minha nas lojas do hemisfério norte e nos serviços digitais. Mas não vai.
CRADLE OF FILTH - FUNERAL IN CARPATHIA é meu roteiro que adapta de forma livre a música da banda de Metal britânica em parceria com o grande mestre argentino Enrique “Quique“ Alcatena na arte e cores do brasileiro Arthur Hesli. Falei mais a respeito em uma edição anterior da newsletter:
VIOLAÇÕES DAS SOMBRAS
Quem lança[ria] a revista é a Opus Publishing, um braço de publicações do serviço de licenciamento Incendium Online. Se você clicar nesse link vai ser que o site da Incendium está fora do ar. Os perfis de redes sociais da editora estão de pé, como o Twitter/X - postando como se estivesse tudo funcionando normalmente.
Mas não está. Abrindo alguns dos posts é possível ver o tipo de reply que estão recebendo dos leitores: basicamente reclamações de produtos não entregues.
Recentemente alguns desenhistas e coloristas europeus e norte-americanos fizeram posts expondo falta de pagamento da editora. Esses exposeds viraram duas matérias do site Bleeding Cool: a primeira sobre os primeiros posts de artistas não pagos e Sara Frazetta, neta do falecido artista e guardiã do espólio de seus direitos autorais, suspendendo a parceria com a Opus até que as equipes sejam pagas. Também cita planos para uma reestruturação da editora.
A segunda matéria tem mais artistas reclamando no atraso - ou ausência - de pagamento. E a editora se comprometendo a pagar todo mundo antes de publicar as obras anunciadas. Além de continuarem a anunciar títulos. Supostamente a editora vai se reorganizar mudando dos EUA para o Reino Unido, e muito provavelmente saindo da mão de Llexi Leon, músico e dono da editora a quem essa atual lambança atual tem sido atribuída.
Eu realmente não sei o que está acontecendo. Só consegui descobrir que o lápis e a arte-final estão prontos [talvez as cores também] porque entrei em contato com os agentes chilenos do Alcatena, que estão conseguindo falar com a editora.
Os agentes não entregaram os arquivos em alta para ela e vão segurá-los até os pagamentos serem feitos - uma atitude que achei bem acertada pra preservar um mínimo de capacidade de negociação pros seus autores. Não somos sindicalizados como os roteiristas e atores de Hollywood.
MAL VAMPÍRICO SUPREMO
E isso é tudo que eu sei a respeito, porque comigo ninguém falou até agora. Minhas mensagens pra editora nos últimos meses foram ignoradas. Gostaria de ter promovido muito mais esse lançamento mas não veio material pra isso [agora sei os motivos]. E também ainda não recebi o pagamento pelo trabalho.
Essa tal “reestruturação” não sei quanto tempo vai levar, mas acho estranho a editora ainda estar anunciando alguns lançamentos. Deve ser pra entrar o que eles puderem receber de grana. No modelo de Mercado Direto nas comic shops norte-americanas o lojista paga antecipadamente pelos títulos que vai querer e só os recebe 3 meses depois. É um investimento que fica empacado.
Pra mim é um mau sinal, talvez até que de que essa mudança não ocorra e a editora venha à falência. Estou apenas especulando, mas casos similares no passado quase sempre terminaram dessa forma.
Os meses em que fiquei no escuro [como ainda estou] estão sendo um contraste com a energia e ritmo acelerado da produção, em esquema bem industrial mesmo - como é comum em muitos casos no mercado norte-americano.
Um trabalho que fiz nas poucas horas livres que tive de manhã cedo, à noite em fins de semana, primeiro de pesquisa, argumento e até o roteiro estar pronto.
Foi com muita vontade e empolgação quádrupla: estava adaptando a música de uma banda respeitada no seu meio, trabalhando com um artista clássico dos Quadrinhos, pela primeira vez meu nome estaria creditado na capa de uma publicação norte-americana - e receberia por isso.
É muita sacanagem fazer isso com os envolvidos na produção. Ainda bem que tenho um emprego fixo no momento, senão estava lascado. Mas bem que gostaria de ter recebido. Saber que isso está acontecendo com tanta gente. É ainda mais revoltante ainda mais com uma pessoa na idade e com a experiência do Alcatena.
Também é uma sacanagem com os músicos da banda que licenciou os direitos pra adaptação, com os leitores que ficaram na expectativa e com os lojistas que reservaram os títulos da editora.
Por hora tudo isso está no limbo, em um sono diurno dentro de um caixão. Até que o projeto seja acordado de novo. Só espero que não seja só pra ver uma estaca de madeira ser enfiada em seu peito. Se isso acontecer eu vou ter que tomar outras medidas.
Assim que eu tiver novidade a respeito mando aqui.
AUSÊNCIA CONFIRMADA
A ComicCon Experience 2023 acontece já na semana que vem. Acho que vai ser a primeira em que não vou. Ano passado fui como público comprei ingresso e passeei pelo pavilhão imenso, basicamente me concentrando no Artists’ Alley, pra ver os amigos e colegas expondo suas obras. Em todas as edições anteriores eu estava lá também expondo e foi realmente… uma experiência.
Tanto na ocasião quanto este ano visitando a incrível POC CON o que eu mais ouvia de colegas que encontrava era “vai lançar coisa nova?”. Gostaria de dizer que sim, inclusive gostaria de ir comprando ingresso pra apertar a mão do Alcatena, que é convidado no evento em parceria com a editora Comix Zone.
Mas eu vou é me recolher na minha catacumba e seguir escrevendo essa newsletter e fazendo outras coisas que eu gosto.
Antes que isso vire um texto mais longo e cheio de autocomiseração - deixo esta parte pra outro momento porque tenho algumas coisas a dizer com mais detalhes - vou fazer algo mais produtivo: deixar links úteis de campanhas de financiamento coletivo de pessoas que [ao contrário de mim] seguem na luta de produzir:
+ A campanha de SOUL INK vai terminar nos próximos dias e ainda dá tempo de garantir a sua. Na edição anterior da newsletter eu entrevistei o roteirista Pablo Casado sobre o projeto;
+ LILY, de Juliana Lossio, sobre uma menina que vai se vingar de seus abusadores;
+ COLEÇÃO CONTRAVERSÃO, com HQs de Terror de Raphael Fernandes, Danilo Dias, Rogério Faria, Ton Albuquerque, Leonardo Silvério e Laion Pessôa;
+ KM BLUES, reimpressão da história com cartola na estrada, de Daniel Esteves e os irmãos Souza;
+ LUSCO FUSCO, experimentação do Orlandeli que forma um único painel de 1m60;
+ ATIREI O PAU NO GATO: adaptações de cantigas como histórias de Terror, por Lucio Luiz e desenhistas como Ana Pepper, Caio Oliveira, Chairim, Mario Cau, Luiza Lemos e Little Goat;
+ BAZAR DAS MARAVILHAS: Marcus Leopoldino e Daniel Franco mostram um RJ e um Amazonas de 100 anos atrás quando personagens buscam a peça que falta de uma árvore genealógica;
+ Pra finalizar, o canal / site Fora do Plástico fez um guia bem interessante de HQs para se procurar no evento.
MEU ANIMAL
Me despeço com a trilha do filme MY ANIMAL, composta pelo norte-americano Gus Muller, metade da dupla Boy Harsher - que se apresentou em SP esses dias. O menino Augustus está se firmando como uma espécie de herdeiro do John Carpenter na composição instrumental. Jae Matthews, outra metade da dupla, escreveu o roteiro do filme depois de se formar em Cinema.
Até a próxima.